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sábado, 8 de junho de 2013

CAMINHOS DA ENGENHARIA CIVIL NO BRASIL


No Brasil, desde o início da década de 80, a Engenharia Civil vem sofrendo os efeitos de uma prolongada crise de falta de investimentos, que reduziu os seus atrativos como área de desenvolvimento profissional perante os postulantes à formação técnica de nível médio ou superior.
Enfatizamos que a crise é de falta de investimentos, para que não se confunda a estagnação brasileira com a européia, por exemplo, cujas origens são estruturalmente diversas.


Regredindo no tempo, no caso europeu, o fim da Segunda Guerra Mundial foi um marco representativo. De um lado, devastação radical da economia dos países e a destruição de vias de transporte, indústrias, usinas geradoras de energia e cidades inteiras. Do outro, a disputa de áreas de influência política entre os vencedores do conflito. Era o início da Guerra Fria.


Tudo precisava ser reconstruído! E os Estados Unidos, cujo território continental havia permanecido incólume e a indústria havia experimentado um crescimento avassalador e definitivo, consolidava a sua presença militar estratégica através da criação da OTAN. O amadurecimento dos dirigentes mundiais evitou que fossem cometidos os mesmos erros da I Guerra Mundial, quando o Tratado de Versalhes e suas pesadas e intermináveis indenizações findaram por gerar sólo fértil para o advento do Nazismo.


Com os compreensíveis rancores controlados por uma intensa propaganda conciliadora, isentando a população dos países derrotados da insanidade dos seus líderes, os vencedores auxiliaram na recuperação dos vencidos, reintegrando-os ao concerto das nações sob a condução dos principais vitoriosos: Estados Unidos e União Soviética, cada um tratando de garantir a sua reserva de mercado.


Esta intensa recuperação, que se prolongou pelas décadas de 50 e 60, provocou a interiorização de países de índole colonialista, como Inglaterra, França etc. Voltados para a reconstrução da sua infra-estrutura e influência, viram seus territórios ultramarinos passarem a sofrer as influências da Guerra Fria num momento em que não dispunham de recursos e nem de motivação nacionalista para preservá-los.


Bom para a democracia, ótimo para a indústria bélica das potências mundiais, que lucrou e lucra até hoje com os conflitos das antigas colônias.


Essa perda de colônias também contribuiu para o incremento da recuperação européia. A busca competitiva de mercados gerou o surgimento de indústrias modernas, redução de custos de produção, desenvolvimento de tecnologias etc.


Mais ou menos 20 anos depois do conflito, a Europa Ocidental ressurgiu como potência econômica, relativamente autônoma, disputando não mais extensões territoriais, mas influência econômica: o Colonialismo moderno. Para tanto, foram efetuados grandes investimentos financeiros. Cidades, estradas, obras de arte, portos e indústrias foram reconstruídos de forma massiva, mobilizando governo, empresários, técnicos e operários num esforço poucas vezes visto na história da humanidade.


Este foi o paraíso contemporâneo da Engenharia Civil como de outras áreas profissionais também. A premência de conclusão das obras conduziu, também, ao desenvolvimento de novos métodos de concepção, emprego de novas técnicas construtivas, equipamentos e materiais.


Com a Europa reconstruída, houve uma queda de investimentos nas áreas internas de interesse de profissionais da Engenharia Civil. A ênfase ficou por conta de empreendimentos habitacionais, majoritariamente, privados. As grandes obras de infraestrutura ficaram por conta de granes empreendimentos pontuais, ampliação das linhas de trens de grande velocidade e abertura do mercado da Europa do Leste, de demanda reprimida por anos de vinculação compulsória à União Soviética.


A Engenharia Civil passou a perder interesse profissional em prol de outras atividades ligadas, sobretudo, à informatização.


A saída das escolas européias foi buscar novos mercados em parceria com o governo e empreendedores. É comum, nas universidades e escolas européias, encontrar cursos de Engenharia Civil com a presença significativa de estudantes de países não-europeus, particularmente, ex-colônias.
De certa forma, isso é indicativo de que, apesar do fim da dominação física, o Colonialismo não se preocupava com a autonomia de territórios ultramarinos. Normalmente, estas colônias eram dotadas de infra-estrutura precária. Precisavam, e precisam, de investimento e obras que garantissem insumos para o desenvolvimento econômico e estabilidade política. Outro aspecto interessante do escopo destes cursos é o ensino de idiomas. Além do inglês, são ministrados cursos de francês, espanhol, árabe, russo e – pasmem - chinês!




BRASIL


A analogia com o Brasil está mais para a situação das ex-colônias do que para a da Europa. Também ex-colônia, nosso país viveu, até a década de 40, sob um sistema produtivo predominantemente agrário e extremamente frágil por estar sujeito ao desempenho de economias mais pujantes e diversificadas. Além disso, tínhamos um histórico de incompetência administrativa e política que nos mantinha na esfera da influência das potências mundiais.


Iniciativas autônomas foram o embrião de uma mudança de ares econômicos. O Estado Novo e o governo de 1951 a 1954, de Getúlio Vargas, começaram o efetivo processo de industrialização do Brasil através da implantação de indústrias de base e os 50 anos em cinco de Juscelino deram os contornos e diretrizes necessários à consolidação do processo de diversificação da economia nacional.


Mas a sombra dos interesses hegemônicos internacionais sempre esteve lá.
A desculpa: a Guerra Fria.
O mecanismo de freio e manobra: o endividamento externo.


O Golpe de Estado de 1964 poderia ter apresentado resultados interessantes, mas a intransigência dos governantes, cultivada por uma conjuntura continental maniqueísta agravada pelo pânico dos Estados Unidos de que a Revolução Cubana se disseminasse pela América Latina e a falta de habilidade e exacerbação ideológica dos contra-golpistas, fizeram o jogo dos interesses externos.


Após o Golpe, a situação do Brasil foi semelhante a da Europa do pós-guerra, mas com aspectos menos grandiosos., afinal, não havíamos guerreado e nem perdido para os Estados Unidos. Neste período, apesar de impregnado pelas tênebras da opressão política e pela ocultação de situações inaceitáveis, o Governo decidiu, sabiamente, prosseguir o processo de industrialização.


Este foi o paraíso tupiniquim da Engenharia Civil: grandes obras de infra-estrutura e algumas faraônicas e superfaturadas, implantação de indústrias, muito investimento em aquisição de tecnologia, mas pouco na pesquisa científica. A propaganda oficial era intensa. O Brasil era o País do Futuro!. Na verdade, era palco de intensas diferenças sociais que o tornavam alvo fácil de ações maniqueístas, da eterna luta entre o bem e o mal, que nunca apareciam bem caracterizados.


Na disputa por este mercado emergente, os investidores destinaram vultosas somas aos projetos do governo militar, não se importando se os recursos eram ou não totalmente aplicados no seu real objetivo. O que importava era que teriam que ser ressarcidos com polpudos juros e, para piorar, havia uma insensata busca de hegemonia na América Latina que era levada a limites extremamente perigosos pelos militares que governavam os países na época. O acordo nuclear entre o Brasil e a Alemanha foi um exemplo significativo disso. Estávamos enfeitiçados pelo canto da sereia!


Curioso é que as duas maiores críticas ao governo de Juscelino (o endividamento externo e a escalada inflacionária) tenham sido multiplicados por dois dígitos neste período de exceção, sem que isso fosse considerado como um estorvo, mas como o preço do desenvolvimento acelerado. Mais curioso é que muitos dos artífices desses planos ainda estejam na ativa, dizendo como seria a maneira correta de conduzir a economia brasileira!


Em 1973, com a Crise do Petróleo, o sonho brasileiro começou a virar pesadelo. O dinheiro fácil dos investimentos internacionais mostrou sua real intenção: o Brasil era um mercado! Só interessava investir no que desse retorno às multinacionais, que já dispunham de mão-de-obra barata com alto poder de adaptação, e garantisse a manutenção do país no bloco ocidental.


O país que ninguém segurava havia caído e estava imóvel na teia de aranha que havia ajudado a construir.


Endividado, inflacionado e recessivo, o Brasil retornou à democracia com inegáveis melhorias de infra-estrutura, mas com uma conta a pagar por gerações, semelhante a do Tratado de Versalhes. Talvez isso mostre por quê a Globalização não nos choca tanto. Estamos há tanto tempo ao sabor dos interesses internacionais que o processo não nos assusta. É pena que a nossa dívida também não seja globalizada!


Para a Engenharia Civil, a experiência das grandes obras de infra-estrutura realizadas durante o governo militar permitiu o acesso competitivo ao mercado externo, disputado com as grandes empreiteiras internacionais. No caso das empresas européias, tratava-se de sobrevivência por falta de mercado interno ou necessidade de expansão, só que a realidade da Europa era diferente da nossa: tínhamos muito o quê fazer no território pátrio, mas a torneira dos investimentos estava fechada.


Este foi o período negro da Engenharia Civil brasileira recente.


Como os investimentos em infra-estrutura são altos e dependem de recursos internacionais, as grandes obras foram desaceleradas ou interrompidas, e os novos projetos foram engavetados. A atual crise energética nacional é um subproduto dessa conjuntura.


O enorme contingente de engenheiros civis – a grande profissão das décadas de 60 e 70 – teve que abandonar o fascinante e eclético mundo dos grandes empreendimentos: uns para os mercados convencionais da construção civil, utros para áreas administrativas ou, simplesmente, viraram suco...


A profissão perdeu mercado específico por demanda reprimida, mas ocupou nichos de mercado importantes. Já na sua área mais tradicional (edificações), teve avanços em pesquisas, materiais e técnicas construtivas, reduzindo custos e prazos de execução de empreendimentos. Felizmente, as mentes continuaram produzindo.


Após mais de uma década de novas tentativas de retomada de desenvolvimento com planos econômicos tão mirabolantes quanto desastrados, com o mercado financeiro ganhando de goleada do investimento em produção e a intensa migração do campo para as cidades, o Plano Real trouxe novo alento ao país.


Apesar dos novos e rudes golpes das nações desenvolvidas, o Brasil enxugou a máquina, modernizou a indústria, iniciou a Reforma Agrária e aprendeu a viver em democracia, retomando, gradativamente, a confiança e o respeito internacional. Enfim, confirmou sua imensa capacidade de adaptação e superação.


O governo FHC criou mecanismos para a reativação da economia, atraindo investimentos privados e criando novos núcleos de desenvolvimento fora do circuito: São Paulo – Rio de Janeiro – Minas Gerais. Demonstrou, ainda, perspicácia, ao impedir que o incentivo a criação de novos pólos de desenvolvimento viesse acompanhado de protecionismo regional em detrimento dos centros tradicionais, evitando a adoção, internamente, do mesmo tipo de política que criticamos no mercado internacional.


As privatizações das estatais ainda carecem de uma avaliação quanto a sua eficácia.


O comportamento da economia brasileira também mostra tendência promissora de crescimento com estabilidade. Esta retomada, entretanto, trouxe à tona as nossas deficiências estruturais causadas por décadas de falta de investimento em áreas fundamentais, como transportes em geral, geração e distribuição de energia, saneamento básico, pesquisa científica, informatização, reforma agrária, distribuição de renda, educação etc.


Todas as iniciativas dos governos, em seus vários níveis, são questionáveis e necessitam de correções, mas não se pode negar que iniciativas estão sendo tomadas.


Em tudo o que está relacionado acima, a participação direta do profissional de Engenharia Civil é fundamental.
Isto representa a retomada do status da profissão?
Sim, na medida em que o desenvolvimento material está diretamente relacionado à capacidade de obter da natureza aquilo que ela nos dispõe, de forma racional e sustentável. E essa é a atividade da Engenharia.


Alguém duvida ou questiona necessidades de melhoria da logística de transportes, ampliação de capacidade, modernização e multiplicação de portos, aeroportos, hidrovias e ferrovias, expansão de saneamento básico, reurbanização das cidades e melhoria da infra-estrutura rural e de gerar energia para sustentar tudo isso? Se esse processo for conduzido de forma idônea, acompanhado dela democratização das oportunidades, combate à corrupção e distribuição de renda, atingiremos, inexoravelmente, um elevado estágio de prosperidade com justiça social.


Para tanto, a ordem interna deve ser: manter e modernizar o existente, interiorizar o desenvolvimento e, externamente, integrar-se ao concerto das nações sem perder a nossa identidade.


Lembremos que, enquanto engenheiros, somos artífices da materialização de idéias e sonhos, nossos e de outros. Nosso pragmatismo é o contraponto positivo dos idealistas e a nossa obstinação em concretizar e o gosto por desafios é o passaporte para novos patamares da evolução humana. Nosso poder de superação não tem limites!


A Engenharia Civil é como aquele jogador de meio-campo que a torcida não vê, mas que o técnico sabe ser imprescindível ao desempenho da equipe. Eclético e solidário, ele joga de cabeça erguida, enxerga o campo todo, antecipa as jogadas, auxilia no ataque e volta para cobrir a defesa. Nunca será artilheiro, mas dá assistência e comemora os gols como se fossem seus. Tem espírito de equipe e consciência de metas.


É impossível vislumbrar desenvolvimento sem associá-lo à Engenharia Civil como princípio, meio e fim.


Os caminhos para a Engenharia Civil estão, novamente, abertos. É certo que haverá sempre, pedras no caminho, mas para quem está habituado a construir estradas, obras de arte e edificações, isso não é problema, é matéria-prima. Aliás, em parceria com a Engenharia Elétrica, nada melhor para encontrar uma luz no fim do túnel da atual crise!




Fonte: CAMINHOS DA ENGENHARIA CIVIL NO BRASIL

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